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MÊS DA BÍBLIA – CARTA AOS EFÉSIOS

      A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) escolheu, em 2023, como livro bíblico para o mês de setembro, a Carta aos Efésios, tendo em vista os trabalhos para um documento preparatório ao Sínodo, convocado pelo Papa
Francisco: “Para uma igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

 

      Sínodo é uma palavra grega, que significa: “Caminhar juntos”. A Carta aos Efésios reflete exatamente sobre isso: como ser um novo Povo de Deus, como viver a unidade na diversidade e como formar e fazer parte da Igreja como Corpo de Cristo, onde ele é a cabeça e nós somos os membros: “Há um só corpo e um só Espírito, assim como a vocação de vocês os chamou a uma só esperança: há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que
está acima de todos, que age por meio de todos e está presente em todos” (Ef4,4-6).

 

      Éfeso era a Capital da província romana da Ásia Menor, com aproximadamente 300.000 habitantes. Na época de Jesus e de Paulo, era uma das mais importantes cidades do Império Romano (atual Turquia) e de grande
centro comercial e cultural.

 

      Com relação ao autor da Carta aos Efésios, há consenso entre os biblistas de que ela foi escrita por um colaborador ou um discípulo próximo de Paulo, que pertencia a escola paulina e ligado a seus escritos. Veja só esta afirmação: “Fiquei sabendo da fé que vocês tem no Senhor Jesus e do amor de vocês para com todos os cristãos” (Ef 1,15). Segundo Atos dos Apóstolos 20,31, Paulo teria morado 3 anos em Éfeso. “Ao que se vê, a ‘Carta aos Efésios’ traz a característica de pseudonímia, muito frequente em vários escritos bíblicos para, ao usar o nome de personagem importante, conferir ao escrito autoridade, importância e infundir respeito e aceitação da sua mensagem.”1 De fato, se você ler o primeiro versículo desta carta, temos: “Paulo, apóstolo do Cristo Jesus pela
vontade de Deus, aos santos que moram em Éfeso, fiéis em Cristo Jesus” Ef 1,1. Vale ressaltar que a menção à Éfeso que aqui aparece não consta nos manuscritos antigos e que é um acréscimo posterior. Então, não seria uma carta
destinada a uma só comunidade, e sim uma carta circular e geral, destinada a várias igrejas domésticas da região de Éfeso com explicação doutrinal sobre a cristologia e eclesiologia. Vale dizer que esta carta tem uma ligação muito próxima com a carta aos colossenses e está presente nas chamadas Cartas do Cativeiro, juntamente com Colossenses, Filipenses e Filêmon. “Por isso, eu, Paulo, prisioneiro de Cristo em favor de vocês, os pagãos…” (Ef 3,1). “Por isso, eu, prisioneiro no Senhor, peço que vocês se comportem de modo digno da vocação que receberam” (Ef 4,1). Paulo, de acordo com alguns estudiosos, teria ficado preso em Éfeso por volta do ano 56-57.

 

1 MOREIRA, Gilvander Luís (org). “Carta aos Efésios” Andar no amor na casa comum toda a criaçãorespira Deus. Belo Horizonte: CEBI-MG, 2023, p.15

 

      Outra dúvida que surge: quando foi escrita esta carta aos Efésios? Mesmo sendo atribuída a Paulo, conforme vimos, ela foi escrita por um discípulo ou colaborador próximo dele, mas usaremos, nos textos que vamos refletir, como sendo “Paulo”, e alguns colocam que esta carta foi escrita por volta do ano 80, outros consideram que foi escrita por volta do ano 90. “A maioria dos autores costuma dividir a carta em duas partes: 1,3—3,21 (o chamado feito por Deus) e 4 ,17—6,24 (a maneira correta de viver dignamente esse chamado). No centro encontra-se o tema central, a saber: a unidade do Corpo de Cristo (4,1-16)”2

 

O que o texto nos diz?

      Vamos começar pelo Hino Trinitário (Ef 1,3-14), ou seja, que fala sobre as obras de Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo. Pegue sua bíblia e leia com calma:

 

1,3-6: fala sobre a criação e obra de Deus que é Pai;

 

1,7-13a: fala sobre a salvação e obra de Jesus Cristo que é o Filho;

 

1,13b-14: fala sobre o Espírito Santo que nos santifica. “De fato, vocês foram salvos pela graça, por meio da fé: e isso não vem de vocês, mas é dom de Deus. Isso não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho. Porque foi Deus quem nos fez, e em Jesus Cristo fomos criados para as boas obras que Deus já havia preparado, a fim de que nos ocupássemos com elas” (Ef 2,8-10).

 

NOVO POVO DE DEUS E UMA NOVA HUMANIDADE (Ef 2,11-18).

 

      “Mas agora, em Jesus Cristo, vocês que estavam longe foram trazidos para perto, graças ao sangue de Cristo. Cristo é a nossa paz. De dois povos, ele fez um só. Na sua carne derrubou o muro da separação: o ódio. Aboliu a Lei dos
mandamentos e preceitos. Ele quis, a partir do judeu e do pagão, criar em si mesmo um homem novo, estabelecendo a paz. Quis reconciliá-los com Deus num só corpo, por meio da cruz; foi nela que Cristo matou o ódio” (Ef 2,13-16).

 

      É um Novo Povo e uma Nova Humanidade. Não tem mais diferença e nem divisão de raça, cor ou condição social, pois o sangue de Jesus, derramado em uma cruz, fez de todos um só povo: o povo de Deus.

 

      “Vocês, portanto, já não são estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos do povo de Deus e membros da família de Deus. Vocês pertencem ao edifício que tem como alicerce os apóstolos e profetas; e o próprio Jesus Cristo é a pedra principal dessa construção. Em Cristo, toda construção se ergue, bem ajustada, para formar um templo santo no Senhor. Em Cristo, vocês também são integrados nessa construção, para se tornarem morada de Deus por meio do Espírito” (Ef 2,19-22).

 

2 CNBB TEXTO-BASE. Carta aos Efésios “Vestir-se da nova humanidade!”. Brasília: Edições CNBB, 2023, p.13.

 

      Agora, chegamos no tema central e no coração da carta aos Efésios: todos nós pertencemos ao corpo de Cristo, que é a Igreja; ele é a cabeça e nós, os membros deste corpo. Veja a profundidade da fé e a grandeza do amor e da
esperança neste texto que fala da unidade:

 

      “Há um só corpo e um só Espírito, assim como a vocação de vocês os chamou a uma só esperança: há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que age por meio de todos e está presente em todos” (Ef 4,4-6).

 

      Leia também 1 Cor 12,4-26.  Paulo explica, em detalhes, o modo pelo qual somos um só corpo em Jesus para formar a Igreja. Todavia, não podemos esquecer que: “De fato, o corpo é um só, mas tem muitos membros; e no entanto,
apesar de serem muitos, todos os membros do corpo formam um só corpo” (1Cor 12,12).

 

      Embora exista a Unidade, não podemos esquecer que também existe a diversidade ou pluralidade, ou seja, o corpo é um só, mas tem muitos membros, assim: “Foi ele quem estabeleceu alguns como apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas e outros como pastores e mestres. Assim, ele preparou os cristãos para o trabalho do ministério que constrói o Corpo de Cristo” (Ef 4,11-12). Mais uma vez, devemos ter em mente que: “Existem dons diferentes, mas
o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos” (1 Cor 12,4-7).

 

      Seria bom se na sua comunidade os Grupos Bíblicos de reflexão, catequistas, equipe de liturgia, Meces, Movimento da Mãe Rainha, Apostolado de Oração, Renovação Carismática e muitos outros e outras fizessem uma leitura orante deste texto: Carta aos Efésios 4,1-16. (1. Leitura; 2 Meditação; 3. Oração; 4. Contemplação e 5. Ação).

 

O que o texto nos diz? O que nós queremos dizer a Deus? Qual é a nossa missão de construir em Jesus a unidade na diversidade?

 

      Agora vamos refletir sobre um dos textos mais polêmicos, complicados e de difícil compreensão nas cartas de Paulo ou nos escritos paulinos atribuídos ele.

 

      “Sejam submissos uns aos outros no temor a Cristo. Mulheres, sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor. […] E assim como a Igreja está submissa a Cristo, assim também as mulheres sejam submissas em tudo aos maridos” (Ef 5,21-22.24).

 

      Na sociedade romana daquela época, a mulher de fato era submissa a seu marido e era quase que uma “propriedade”; muitas vezes era humilhada, pois o marido era a “cabeça” da mulher e deveria ser subordinada. Se você verificar, no dicionário Aurélio, a palavra Submissão é definida como: “Ato ou efeito de submeter(-se) (a uma autoridade, a uma lei, a uma força); obediência,
sujeição, subordinação”

 

      O capítulo 5,21 diz que todos devem ser submissos uns aos outros no temor a Cristo, a Igreja inteira, tantos os homens, quanto as mulheres e filhos. Agora, observe: “Mulheres, sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor”
(Ef 5,22). Ele não fala para as mulheres serem submissas a seus maridos e termina a frase. Acrescenta: “Como ao Senhor”. É fundamental, antes de qualquer coisa, definir a palavra submissão neste contexto bíblico, sabendo que
o autor faz uma relação clara e precisa da união com Cristo e a Igreja e da união do casamento entre o marido e a mulher com relação a Cristo. Em primeiro lugar, a palavra Submissão vem do grego: Hupotasso, sendo traduzida, no sentido de sujeitar, subordinar, obedecer. “A expressão ‘temor de Cristo’ evoca o verdadeiro amor e respeito segundo o espírito de sacrifício e de amor gratuito de Jesus Cristo (1Jo 4,18). A submissão de uns aos outros, na linguagem cristã, se refere, portanto, ao comprometimento de serviço e amor, manifestado na relação Cristo-Igreja”

 

      Na sequência, temos: “Maridos, amem suas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela; assim, ele a purificou com o banho de água e a santificou pela Palavra” (Ef 5,25-26). Fica evidente que os maridos devem amar suas mulheres como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. Fica, em destaque, a questão do batismo, o banho de água que nos purifica. Paulo diz: “Pois todos vocês que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo. Não
há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo” (Gl 3,27-28). Antigamente, no batismo, as pessoas tiraram suas vestes e jogavam fora, no sentido de ser homem velho ou mulher velha, e, ao serem batizadas, recebiam novas vestes, e Paulo sabiamente diz: “Vocês devem deixar de viver como viviam antes, como homem velho que se corrompe com paixões enganadoras. É preciso que vocês se renovem pela transformação espiritual da inteligência, e se revistam do homem novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade” (Ef 4,22-24).

 

       Agora, vem a grande novidade do texto e o verdadeiro ensinamento e exortação da relação verdadeira entre marido e mulher, tendo em vista a relação entre Cristo e a Igreja:

 

      “Portanto, os maridos devem amar suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher, está amando a si mesmo. Ninguém odeia a sua própria carne; pelo contrário, a nutre e dela cuida, como Cristo faz com a Igreja, porque somos membros do corpo dele. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne. Esse mistério é grande: eu me refiro a Cristo e à Igreja. Portanto, cada um de vocês ame a sua
mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido” (Ef 5,28-33).


      Em meu livro “Explicando as Cartas de São Paulo”, você poderá ver a explicação, em detalhes, do texto, o contexto e a visão social da época. Tenho a convicção de que o autor quis dizer para deixar de lado o homem velho, que tratava a mulher como submissa, no sentido de escrava/senhor, que era a cabeça da mulher na sociedade romana, para entender a visão da nova cabeça, que é Cristo, no sentido de fonte, origem, entrega, amor e serviço. Se o Marido deve amar a sua Esposa como Cristo amou a Igreja, fica evidente, a meu ver, que ele vai além da visão de sua época e dá uma orientação nova, onde há igualdade, amor e respeito. Também no livro do CEBI, sobre a “Carta aos Efésios”, no que se refere a esse tema, é citado partes desta visão do ir além da mentalidade da época, ou seja, o autor parece falar de amor e não de submissão, e faz um apelo rumo à dignidade e igualdade entre o homem e a mulher. “O autor de Ef propõe que os cristãos pratiquem o código doméstico com a ‘reciprocidade’ e o ‘amor ao próximo’, segundo o modelo da união de Cristo e da Igreja, na família cristã. Dessa forma, o autor exorta os cristãos e as cristãs a desacreditar e a mudar, pacífica e gradativamente, as relações de dominação, dentro do jugo da sociedade patriarcal e escravagista do império romano”.


      O importante é ter uma vida nova nos ensinamentos de Jesus Cristo. Viver na fé, no amor e na esperança e construir um mundo melhor.


      “Aos irmãos, a paz, o amor e a fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. A Graça esteja com todos aqueles que amam nosso Senhor Jesus Cristo com amor perene” (Ef 6,23-24).

 


Pe. Francisco Albertin Ferreira
Paróquia São Judas Tadeu 

Passos / MG
franciscoalbertin@yahoo.com.br


ALBERTIN, Francisco. Explicando as Cartas de São Paulo. Aparecida: Editora Santuário, 9ª Ed, 2022, p.
130-136.

 

Se você tomar o Livro “Carta aos Efésios” Andar no amor na casa comum toda a criação respira Deus.
CEBI Gilvander Luís Moreira (org) no seu capítulo 1: “Carta aos Efésios”: Carta? Homilia ou tratado
teológico? Escrito por Iêda Santos Leite, p. 22 e 23 dentre outros argumentos, ela cita também o meu
livro Explicando as Cartas de São Paulo, p. 134.


CENTRO BÍBLICO VERBO. Nova Humanidade em Cristo: Entendendo a carta aos Efésios. São Paulo:
Editora Paulus, 2023, p. 101

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