A quaresma é um tempo especial, marcado pelo convite insistente à conversão. Duas marcas precisam nos acompanhar neste tempo: a oração constante, profunda e a escuta atenta e preciosa da Palavra de Deus. Sem isso, corremos o risco de permanecemos os mesmos.
A oração é que nos move e nos coloca em contato íntimo com Deus. A oração é como a energia ou o combustível de que o carro necessita para funcionar e fazer seus percursos. Sem a oração a comunidade, o cristão, estão fadados ao fracasso. A oração brota da escuta atenta da Palavra de Deus. A Palavra precisa ser proclamada e anunciada sempre. Ela é como a água que penetra o chão de nossa vida, não deixando escapar nenhum veio.
Durante a quaresma, Deus nos fala de uma maneira mais forte e direta. Nossas assembleias se acendem com mais vigor, tudo se transforma num clima de reflexão e oração. É perceptível que as relações de fraternidade e de perdão são resgatadas, muitas conversões acontecem. Durante a quaresma mudamos de casa! Nossa casa passa a ser a Igreja – a comunidade e o convívio de verdadeiros irmãos e irmãs.
Por ser um tempo marcado abundantemente pela oração e escuta da Palavra de Deus, a Igreja sempre nos apresenta uma situação desafiadora, marcante na realidade de nosso país e também de nossa Igreja.
A Campanha da Fraternidade deste ano nos levar a pensar sobre a caridade cristã, trazendo como tema: “Fraternidade e Fome” e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). Quantos irmãos nossos passam fome e levam uma vida que parece faltar quase tudo. A propósito, o mundo se surpreendeu com a situação dos povos indígenas, especialmente os Yanomami. Quem é que não ficou estarrecido, envergonhado e chocado com as imagens que revelaram o desprezo, a humilhação e a injustiça? Como podemos rezar e ouvir a palavra de Deus e dizer que tudo vai bem? São nossos irmãos e irmãs, filhos de um mesmo Pai, batendo em nossas portas, implorando as migalhas que caem de nossas mesas.
O apelo de Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer” nos tira o chão, nos incomoda e nos lança para frente, exigindo conversão, mudança e um jeito novo de entendermos a realidade. A Igreja não pode só se revestir externamente com belas orações, ornamentos, roupas e celebrações. É preciso rasgar o coração, partilhar e assumir a defesa dos pequenos e pobres.