Por Diácono Otávio Lemes
Sair é um verbo teológico desde os primórdios da revelação. O encontro autêntico com Deus sempre foi um processo de deslocamento, um itinerário constante de saída.
O primeiro a experimentar o convite foi nosso pai na fé: Abraão. O imperativo veio acompanhado de uma belíssima promessa que em Jesus alcançou a realização plena: “O Senhor disse a Abrão: sai de tua terra natal, da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Farei de ti um grande povo, te abençoarei, tornarei famoso teu nome, que servirá de bênção” (Gn 12, 1-2). Assim, a começar por Abraão, todos os homens ilustres da Escritura experimentaram o processo da saída sendo conduzidos por Deus.
Jesus, Deus feito homem, também viveu este processo. É muito comum encontrar nas Escrituras expressões como: “Jesus saiu novamente para a beira do lago” (Mc 4,13); “um sábado atravessava plantações” (Mc 2,23); “Jesus se retirou com seus discípulos” (Mc 3, 7); e tantos outros exemplos dos quais estão repletos os Evangelhos. Sair é verbo que acompanhou a trajetória de Jesus, no entanto, devemos entender bem o que ele significa para não cairmos em uma imprecisão teológica que está distante da proposta do mestre.
Só pode sair do jeito certo aquele que primeiro escolheu permanecer, mas permanecer com quem? Com Jesus, bebendo de seu ensinamento, aprendendo de sua vida, fazendo da sua palavra o modo de viver. O papa Francisco tem convocado a todos a serem uma Igreja em saída, fazendo eco ao Concílio Vaticano II, que nos exorta: “A Igreja enviada por Deus a todas as gentes para ser ‘sacramento universal de salvação’, por íntima exigência da própria catolicidade, obedecendo a um mandato do seu fundador procura incansavelmente anunciar o Evangelho a todos os homens” (AG 1).
Sair é missão e a Igreja é missionária por excelência, enviada para anunciar uma boa notícia de salvação, que gere vida onde for anunciada.
É seguindo os passos de Jesus que Francisco nos recorda as perspectivas deste itinerário: uma Igreja que não se refugie na falsa segurança do poder, mas uma Igreja que seja povo de Deus, destemida e profética, aliada do Deus vivo da história que se deixa tocar nas diversas feridas de um povo que, ainda, se encontra como ovelhas sem pastor.