A ESPERANÇA
Prof. Paulo César de Oliveira
A esperança é uma virtude teologal; é uma postura e um sentimento em relação ao futuro; é uma força que impulsiona o homem na direção do “ainda não”, do “inédito viável”. Por isso, não é substantivo; é verbo; é “esperançar”.
Trata-se de uma continuidade na descontinuidade: é uma conjunção entre o “já” e o “ainda não”. Justamente, por isso, a esperança é a linguagem da escatologia. A melhor forma de explicitar esta virtude é a utilização de símbolos; o simbolismo abre perspectivas para a hermenêutica e o mistério.
Sem a esperança não é possível adentramos no universo do amanhã; ela é própria do ser humano porque este é um ser incompleto, em contínuo movimento, em constante tensão rumo ao futuro.
No pensamento grego, não encontramos referências à esperança; também não existe lugar para temas como a liberdade, a história e a providência. É, justamente, no judeu-cristianismo que encontramos espaços para esses temas. Os cristãos colocam-na com uma das três virtudes teologais, ao lado da fé e da caridade. Eles admitem que alguns não têm esperança (1Tes 4,13) e os que a têm, são chamados a justificá-la (1 Pd 3,14). São Paulo diz que, se vemos o que esperamos, ela desaparece, porque não é possível esperar o que já se vê (Cf. Rm 8,24-25).
O nosso cotidiano a desafia. Vivemos em uma cultura pós-cristã, pragmática, secular, voltado para o futuro relativo e não absoluto. Tudo é transitório e efêmero. Há um culto ao efêmero e a uma rejeição ao duradouro. Nesse contexto, a esperança cristã pode se dissolver no imediatismo. Uma postura comum às nossas comunidades e Igrejas é silenciar-se com relação ao futuro absoluto e uma atenção quase que exagerada àquilo que passa e é irrelevante!
Enquanto vivemos no tempo presente, é importante educar para a esperança. Alguns elementos nos permitem dar respostas às problemáticas apresentadas pela assim chamada ‘pós-modernidade’.
Um primeiro elemento se verifica quando analisamos as novas formas culturais gestadas pela indústria cultural de massas; constatamos que a cultura está se transformando, pelo processo semiótico, num campo de luta sobre o significado. Esta transformação permite uma multiplicidade de leituras pós-modernas e existe, também aí, um espaço para o qual devem ser levadas as formas de resistência criadas na cultura do silêncio. Isto é possível no entrecruzamento de linguagens, culturas e poderes.
O segundo elemento é a reconstrução de um projeto libertador ou emancipador. Este projeto mostra como o sofrimento humano e a exclusão não desaparecem, embora as condições que os possibilitam tenham mudado. Por isso, quando se fala de esperança e utopia, colocamos nos grupos excluídos a pergunta a respeito da razão de ser da exclusão. Hoje existem novas formas de exclusão e opressão e a conscientização ainda se faz necessária para que aconteça a emancipação.
O terceiro elemento é a reconstrução de uma pedagogia crítica. Nesta perspectiva, educar para a esperança não é transferir conhecimentos, mas criar condições e possibilidade para a sua construção; isto ocorre quando se coloca a necessidade de não estar demasiado seguro de nossas certezas como condição para pensar corretamente.
É por estas e outras razões que o homem esperançoso é um “fronteiriço”, isto é, vai sempre além de sua realidade, de seu pensamento, busca novos caminhos e faz de sua passagem pelo mundo uma práxis educativa para a liberdade.