Educar para o diálogo
Roberto Camilo Orfão Morais
Recentemente pelas redes sociais, algumas pessoas blasfemaram em favor da existência de um partido nazista no Brasil, algo que nos deixa perplexo. Ser tolerante, não significa tolerar tudo. Para o filósofo André Comte-Sponville, “Tolerar a injustiça de que não somos vítimas, tolerar o horror que nos poupa, não é mais tolerância é egoísmo, é indiferença, ou pior”.
Estudiosos apresentam diferentes perspectivas sobre essa onda de estupidez que estamos vivendo. Chama a atenção em particular, as análises que colocam o aumento do medo, como um dos fatores dessa crise. Os excessos de informação e inseguranças têm gerado uma verdadeira epidemia de medo e ódio.
Penso que o melhor antídoto contra essa anomalia social seja a educação para o diálogo. A educação, entendida como tudo aquilo que nos humaniza, orienta e nos abre para a plenitude de nossa existência. O diálogo entendido como uma disposição em ouvir e aprender com o outro, e isso não deve ser confundido com o concordar com tudo, ou de negociar o inegociável, como por exemplo o direito e o respeito à vida.
O desafio de se praticar o diálogo é o de admitir o risco de não ver prevalecer seu ponto de vista, ou de perceber que para além das opiniões que se opõem as pessoas entre si, exista um lugar comum, sendo necessário para alcançá-lo, desenvolver outra percepção e compreensão.
A educação para o diálogo é tarefa da família, das diferentes instituições e de todo o conjunto da sociedade, porém a escola, por ser espaço plural, é campo fértil para se praticar a pedagogia do diálogo.
A aula é um momento privilegiado para refletir sobre o diálogo, utilizando por exemplo a frase do psiquiatra e educador Augusto Cury: “os fracos usam a força, os fortes usam o diálogo. Os fracos dominam os outros, os fortes promovem a liberdade”.
O manual da Campanha da Fraternidade 2022, registra a relevância de uma educação que provoca a cultura do diálogo, capaz de: “identificar e nomear lugares, situações e ambientes onde a intolerância, a violência e o ódio são disseminados e, assim, refletir suas causas e buscar soluções para sua superação”.
Como é proclamado nos evangelhos, Jesus o grande educador, ensina através do diálogo, em sua disposição ouvir os pedidos e relatos de dor e sofrimento. Pelas estradas da Galileia, Jesus presta atenção no outro, de maneira sincera e acolhedora, evidenciando que a arte do diálogo é essencial no anúncio do Reino de Deus. Convida-nos a cruzarmos as Galileias dos nossos tempos, vivenciando a sua fé e assim, construindo uma “civilização do amor.”
Como afirma o manual da CF 2022, nenhuma pedagogia que se diga cristã, deverá abster-se de operar o diálogo em todos os níveis e com todos os sujeitos. “Isto será possível à medida em que Cristo, que nos liberta do egoísmo, for tudo em todos” (1 Cor 15,22).