Assim que tomou posse, Dom Ranulpho teve conhecimento do estado financeiro da diocese, o que lhe deixou assustado. Em conversas com o núncio, disse-lhe que se soubesse da situação do bispado de Guaxupé, nunca o teria aceitado. O representante do papa lhe respondeu que lhe havia ocultado a situação justamente para que ele o aceitasse.
Dom Ranulpho quis devolver as dívidas à Diocese de Pouso Alegre, mas Dom Otávio, bispo daquela diocese, se opôs tenazmente. Ele dizia ter aceitado aquele bispado com a promessa de que as dívidas fossem assumidas por Dom Assis em Guaxupé, que assim fora feito e que era impossível voltar atrás.
Destarte, a solução foi a diocese guaxupeense arcar com as consequências e tratar de saldar aqueles débitos.
Com tantos desafios, Dom Ranulpho não tardou a começar as visitas pastorais pela diocese. Nessas visitas, a maior parte delas realizadas no lombo de cavalos, além dos atos próprios do seu ministério, angariava recursos para pagar as dívidas. Já no primeiro ano de seu episcopado, conseguiu pagar a dívida com a Mutualidade Vitalícia, do Rio de Janeiro, e a que se devia ao Colégio Pio Latino Americano, de Roma.
Particularmente difíceis foram aquelas reclamadas por um padre espanhol, José Blanco, que não cessava de cobrá-las à diocese. Tratava-se de empréstimos feitos por esse padre a Dom Nery, nos idos de 1901, quando do estabelecimento da diocese pouso-alegrense. Na negociação dessa dívida, o arcebispo de Belo Horizonte serviu de intermediário entre Dom Ranulpho e o bispo de Pouso Alegre. Este último, embora se recusasse, acabou por arcar com uma parte desse pagamento. Até mesmo alguns bispos espanhóis foram consultados sobre o assunto, para se certificar que o tal padre José Blanco existia, pois se temia uma fraude.
Essa situação ocasionava sofrimentos a Dom Ranulpho. Com efeito, em 15 de abril de 1924, em carta ao núncio, ele revelava que tinha sido pressionado para aceitar a diocese, e desabafava: “[O encarregado da nunciatura] monsenhor Cortesi fez pressão para que eu aceitasse este posto de martírios, onde tanto tenho sofrido secretamente” (Fonte: ASV). Na mesma carta, dizia que a nunciatura chegara a pedir-lhe que fizesse um estudo sobre uma eventual mudança da sede diocesana, mas ele tinha se recusado a isso, para evitar vexames e mais sofrimentos.
Sendo jornalista, Dom Ranulpho tratou logo da fundação de um jornal, a que deu o nome de Jornal Diocesano, cujo primeiro número circulou em janeiro de 1921. Além disso, publicou diversas pastorais e participou ativamente de grandes momentos da Igreja no Brasil, como o Congresso Eucarístico Nacional, em 1922, bem como do movimento para a construção da estátua do Cristo Redentor, no morro do Corcovado, no Rio de Janeiro, para o qual fez uma coleta em toda a diocese.
Apesar das dificuldades econômicas, não deixou de ouvir também os apelos do papa e enviou ajuda humanitária às crianças pobres da Europa Central, na crise que assolou aquela região no pós-guerra.
Em 1924, na Diocese de Guaxupé, como em todas as outras do Brasil, foi realizada a visita apostólica. O frei Giuseppe de Persiceto, que a realizou, em nome do papa, louvou muito a ação de Dom Ranulpho. Dizia que, embora muito jovem, era dotado de vasta cultura, ciência e experiência. E que naquele momento ele tinha três grandes preocupações: formar um bom clero, terminar o pagamento das dívidas da diocese e construir uma bela catedral.
O clero, os religiosos, as religiosas e os leigos da diocese auxiliaram a Dom Ranulpho, moral e financeiramente, de modo que a situação aos poucos foi sendo regularizada e o bispado consolidado. Desse modo, ao concluir o relatório diocesano para a visita ad limina apostolorum, em fins de 1924, ele dizia ao papa: “Todas as coisas, nesta diocese guaxupeense, inspiram prosperidade, vida e esperança” (Fonte: ASV).
Com essas perspectivas, a Diocese de Guaxupé concluía a sua primeira década de existência, dizendo adeus a um período de grandes desafios, marcado sobretudo por acentuada desestabilização financeira. A partir desse período, ela pôde caminhar a passos mais decisivos rumo à sua plena consolidação e ao exercício efetivo de sua missão.
Por Pe. Hiansen Vieira Franco