Por Richard Oliveira
Tal qual o místico, o artista não é “dono” da inspiração. Os artistas me entenderão: há aquele sagrado momento em que a inspiração vem. Às vezes, quando menos se espera, o projeto parece vir completo à cabeça. Às vezes, e isso também é intrigante, uma inspiração matura por anos no coração do artista.
Se conhecemos minimamente a vida e a obra de algum místico, entendemos que a base da vida mística se firma na abertura total a ação de Deus. Quando lemos as páginas de Santa Teresa de Jesus, a santa que reformou o Carmelo, por exemplo, percebemos um coração aberto à experiência de Deus, ao mesmo tempo que, por meio de sinais visíveis, Deus manifesta sua obra na vida de Teresa, não como uma graça particular somente, mas para a santificação de todo o corpo da Igreja.
“Tal e qual, também pela arte, Deus realiza e manifesta sua beleza no mundo. Mesmo em tempos nos quais o entretenimento sobrepõe a arte e o lucro determina o que é arte consumível ou não, para o artista, o sagrado momento da inspiração constitui não só um momento sublime de relação com o criador, mas também um canal de comunicação/revelação do criador com os homens”.
Como a mística, a arte se faz pela atração de dois polos: a graça e a realidade humana. Por isso, o artista conta ao mundo a sua história de vida e, nela, se contempla a obra de Deus transvestida de fragilidades humanas.