O tempo tem seus ciclos, e viver tem suas razões. Estamos prestes a concluir mais um ano civil, e a Igreja nos coloca no kairós, tempo da Graça, para encontrarmos a grande razão de vivermos. O tempo litúrgico do Advento vem marcado pelo início de um novo ano e alimentado pela grande esperança do nascimento de Jesus Cristo, o Emanuel. Preparamo-nos durante quatro semanas para fazer memória da ação mais silenciosa e simples, mas, ao mesmo tempo, do grande marco da história da humanidade: Deus visitou o mundo. Deus se encarna não só na história, mas na própria carne da criatura, para assim, não apenas nos redimir, mas também nos ensinar a viver. É nesta dinâmica ação de Deus que abrimos o itinerário de um retiro espiritual, marcado por algumas palavras que devem ecoar em nosso coração e nos ajudar a vivenciar o grande mistério do Natal.
Quando falamos de Advento, a primeira palavra de destaque é espera. Preparamo-nos para a vinda de Jesus. Esperar não é estar ou ficar parado. Esperar é a abertura para acolher algo ou alguém em nossa vida, casa e história. É interessante perceber que nossos tempos são agitados, e o maior clamor da grande maioria é por mais tempo, pois a vida está muito corrida. Em contrapartida, muitas vezes, não estamos preparados para acolher o outro e os fatos da vida. Quantas pessoas hoje exclamam que não esperam mais nada deste mundo! A espera do Advento quer nos ajudar a encontrar espaço para acolher: Deus, o irmão(ã) e a si mesmo. É preciso saber esperar! Que o tempo seja propício para aprendermos a esperar a chegada de Deus. Quem não é capaz de acolher também não é capaz de encontrar.
A espera que acolhe nos leva a meditar outra palavra: cronos, tempo. O kairós entrou no cronos, o tempo medido. O “fim de ano” consegue transformar a rotina, os dias e as horas de tudo e todos, muitas vezes gerando caos para responder aos anseios sociais e comerciais. Somado a esse fato, temos também as comunicações virtuais e tecnológicas que nos tiram da realidade cronológica: 60 minutos assistindo a reels parecem pouco tempo; 5 minutos esperando a resposta de uma mensagem parecem uma eternidade. O período do Advento quer nos ajudar a perceber melhor nosso tempo cronológico, a nos tornar inteiros, e não fragmentos; presentes, e não ausentes. Viver a preparação para o Natal é encontrar o ritmo do tempo de Deus novamente. Afinal, tempo perdido não é aquele que passou, mas sim aquele que não foi vivido.
Por falar em viver, o fim do ano nos convida à última palavra: encontro. Toda a realidade é visivelmente transformada por luzes, presépios e festas. Se, externamente, há essas transformações, é preciso permitir que nosso interior também seja iluminado e transformado pelo encontro com Deus. Alguns se manifestam contrários às transformações externas – luzes, festas, abraços –, alegando que, durante o ano, a vida segue de outras formas. Estes pensamentos não estão totalmente errados, mas é preciso deixar Cristo nascer! E Ele não nascerá se nossos corações não o acolherem. O Advento nos ajuda a entender que não se trata de uma questão social ou cultural, mas do encontro do Salvador com a humanidade. É o encontro que salva.
Esperamos que, neste tempo de espera, o Advento, seu coração seja preparado para fazer memória do nascimento d’Aquele que, sendo tão simples, foi Redentor. Que seu coração seja iluminado para caminhar na esperança de um novo tempo com o nosso Salvador. Pois a esperança não é pensar que tudo vai dar certo, mas sim que a vida vale a pena.