No dia 5 de julho de 2000, com 44 anos, foi nomeado primeiro bispo diocesano de Janaúba, no Norte de Minas Gerais. Recebeu a ordenação episcopal no dia 17 de setembro do mesmo ano, em Belo Horizonte (MG). Adotou como lema episcopal Per Crucem ad Lucem (Pela Cruz à Luz). Tomou posse em Janaúba em 15 de outubro de 2000.
Gláucia Melasso Garcia de Carvalho, assessora de planejamento e relações institucionais do Movimento de Educação de Base (MEB), afirmou em nota sobre Dom Mauro, em setembro de 2006: “membro suplente do conselho diretor do MEB, se destacou mediante o seu empenho nos projetos ligados ao ‘Cidadão Nota 10’ no norte e nordeste de Minas Gerais. Sua visão lúcida e perspicaz dos problemas sociais, seu compromisso firme e corajoso com os mais pobres daquela região, em particular da Diocese de Janaúba, foi valiosa ajuda à assessoria do MEB ao projeto da educação popular e alfabetização de jovens e adultos”.
Influenciou e esteve presente na articulação de projetos pelo bem comum da região, articulando as ações do Regional Leste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) com entidades da região, como a Secretaria Especial de Governo do norte e nordeste de Minas Gerais, o Instituto de Desenvolvimento do norte e nordeste de Minas Gerais (IDENE). “Em Janaúba, doou sua vida ao povo, indo ao encontro das lutas e sofrimentos dos mais esquecidos da sociedade”, destaca a assessora.
Em abril de 2006, Dom Mauro foi eleito vice-presidente nacional da Comissão Pastoral da Terra.
Bispo de Guaxupé
No dia 19 de abril, Dom José Geraldo Oliveira do Valle, CSS, anunciava, em Missa na Catedral Diocesana Nossa Senhora das Dores, o nome do novo bispo da diocese: Dom José Mauro Pereira Bastos, CP, então bispo diocesano de Janaúba (MG).
Dom José Geraldo o apresentou oficialmente ao clero, quando o bispo nomeado esteve em Guaxupé no dia 3 de maio e reuniu-se com os padres da diocese. Com muita simpatia e carisma, sua excelência contou um pouco de sua história pessoal, sua experiência como padre religioso, sua vida como primeiro bispo da Diocese de Janaúba e dos trabalhos na CNBB. Disse ainda que chegava com o coração aberto para entrar numa caminhada eclesial de 90 anos. Nesse mesmo dia, também visitou o Seminário Diocesano São José, em Guaxupé.
Na manhã festiva de 18 de junho de 2006, às 9 horas, aconteceu a posse canônica, durante a Missa, na Catedral Diocesana.
No jornal Comunhão de junho de 2006, Dom Mauro escreveu: “É assim, queridos irmãos e irmãs, que venho a vocês. Como alguém pequeno e frágil, escolhido por Deus para partilhar minha vida em prol do Reino, como pastor convocado para amar e servir. Chego com o coração aberto a todos, com sincero desejo de contar com cada um para que possa conhecer e amar essa nova realidade, partilhando dos mesmos sonhos e esperanças”.
Falecimento
Numa trágica manhã de quinta-feira, no dia 14 de setembro de 2006, celebração litúrgica da Exaltação da Santa Cruz e festa titular da Congregação Passionista, às 10h30min, Dom Mauro faleceu em um acidente automobilístico no trecho entre Oliveira e Carmópolis de Minas, no Centro-Oeste de Minas Gerais. O bispo dirigia-se a Belo Horizonte para reunião da Pastoral da Juventude do Regional Leste II, da qual era assessor em âmbito nacional e regional. Dom José Mauro estava com 51 anos.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), além do carro do bispo, envolveram-se no acidente dois caminhões, uma viatura da Polícia Rodoviária Federal, um carro e um veículo que escoltava uma das carretas. Quatro dos seis automóveis envolvidos pegaram fogo, inclusive o carro do bispo. Quatro pessoas ficaram feridas – uma em estado grave. Essa tragédia comoveu boa parte do Brasil.
O corpo de Dom Mauro chegou a Guaxupé no fim da noite do dia 14. Foi velado na Catedral Diocesana até a manhã de sábado, dia 16 de setembro. Logo após a Missa exequial, o corpo de sua excelência foi transladado, em avião, rumo a Janaúba e depois para Vitória, onde foi sepultado, nesse mesmo dia.
Dom José Mauro não foi sepultado na cripta da catedral, em Guaxupé, pois, a pedido de sua mãe, a diocese autorizou que o sepultamento do corpo de seu filho fosse realizado no jazigo da família, no Estado do Espírito Santo. Na época, o padre Gilvair Messias, que era seminarista, escreveu um belo texto sobre a comovente morte de Dom Mauro: “O dia quatorze de setembro de dois mil e seis, dia da exaltação da Santa Cruz, e o dia quinze, dia de Nossa Senhora das Dores, já ficaram marcados em nossas vidas e em nossas memórias. Dia da cruz e dia da dor. Dia de não entender, assim como aconteceu com Maria e os seguidores de Jesus, o porquê da partida de um homem tão jovem, cheio de projetos e sonhos. (…) Fica para nós a sua memória… Um homem de mística profunda, de grande inteligência e enorme coração, de um humor fino, de um sorriso cativante, que entregava nos lábios a alegria gerada em seu coração, de palavras sábias e gestos acolhedores. Ficam para nós as suas iniciativas, o seu modo de olhar, de crer e de cuidar. Fica para nós o seu jeito de chamar a cada pessoa de irmão e irmã. E ainda mais, a sua esperança de que todos nós fôssemos irmãos. Ficam para nós o seu modo de escrever a história de Deus em sua própria vida e na vida do povo, o seu ser sempre jovem… Ficamos na dor, mas com a beleza e ousadia de seu viver.
Deixou em nós, assim como Jesus deixou na vida dos seus seguidores, a expectativa pelo Reino. Eles esperavam que seu mestre fosse restaurar Israel. Nós também esperávamos tanto de nosso pastor… Com ele, agora percebemos melhor que a graça de Deus irrompe de maneira simples na história, sem depender das definições cronológicas. ‘Três anos’ da ação de Jesus foram suficientes para que o povo sentisse a infinitude da ternura de Deus. Três meses de Dom José Mauro em nossa diocese, os curtos anos que passou junto de sua família, de sua congregação, de seus amigos e amigas, de seus irmãos e irmãs da diocese de Janaúba e o pouco tempo de sua vida entre todos nós foram responsáveis por transformações profundas em nosso modo de viver, de acreditar e de fazer acontecer o cristianismo. Deixa-nos, como fazem todas as coisas agradáveis, com um “gosto de quero mais”.
Assim como Dom José Mauro, também caminhamos da cruz à luz. Ele soube cuidar da terra e semear com eficácia. Soube, acima de tudo, ser semente. Entregou-se até o fim. É mais um mártir de nossa história. Partiu de nosso meio enquanto caminhava para o trabalho. Estamos no tempo da ressurreição. E ela já começa a acontecer em cada um de nós que, aos poucos, tornamo-nos frutos deste plantio. Confiamos que pessoas como nosso pastor nunca deixam de viver. A sua presença continua em nós… E ela vai se fazendo enquanto nossas opções colocam em primeiro plano as causas do semeador-semente. Ficamos com o dom de sua vida convidando-nos a também fazermos um dom das nossas”.
O sorriso sincero, cativante e acolhedor de Dom Mauro marcou profundamente, embora em poucos dias, a Diocese de Guaxupé, quando esta celebrava seus 90 anos. Uma das falas de sua excelência que me recordo é que “nossa missão é semear e nem sempre colher”. Saudosas lembranças, na certeza de que pela Cruz chegaremos à Luz…