Por Zani Eduarda do Lago Dias Viana
Um dia desses, meu filhinho André, com cinco anos de idade, me disse que quando ele crescer quer ser bombeiro e Padre. Na sequência, me pediu que eu lhe explicasse o que ele precisava saber para ser um Padre. Respondi com sucintas palavras: precisa ter fé e acreditar em Jesus. Depois me coloquei a refletir sobre quais as virtudes que aquele pequeno necessitaria cultivar para que, de fato, se tornasse um bom Padre. Acho que, como mãe, se esse for realmente o desejo de Deus para ele, lhe daria alguns simples conselhos, a partir do que eu espero encontrar em um Padre.
“… que ele olhasse para a vocação como um presente especial”
Eu recomendaria, primeiramente, que ele olhasse para a vocação como um presente especial. Deus, que ama por primeiro, oferece a cada vocacionado a oportunidade de uma vida com Ele. O chamado à missão se dá, não por aquilo que se é, mas apesar do que se é! É dom de Deus e não mérito humano. Um Padre não recebe o chamado por ser inteligente, piedoso, dedicado, estudioso, fiel, orante. Isso são exigências da missão. O Padre é escolhido porque Deus lhe concedeu essa Graça.
“… que ele poderia responder, livremente, à oferta de Deus, mas, caso dissesse sim, precisaria assumir sua missão se fundindo plenamente à sua vocação”
Depois, eu iria lembrá-lo que ele poderia responder, livremente, à oferta de Deus, mas, caso dissesse sim, precisaria assumir sua missão se fundindo plenamente à sua vocação, testemunhando com a própria vida a graça por ele recebida. Em todos os ambientes, sejam eles eclesiais, familiares ou sociais, a Vocação precisa estar em destaque, se sobrepor. É ela quem deve chegar primeiro. Para tanto, seria indispensável ter a extrema humildade de ocupar o lugar secundário, abdicar de seu protagonismo para Jesus se tornar sempre evidente e agir com liberdade.
“… jamais perder seu encantamento inicial, aquela paixão por Jesus que lhe fez responder aos apelos de Deus”.
Eu iria aconselhá-lo a jamais perder seu encantamento inicial, aquela paixão por Jesus que lhe fez responder aos apelos de Deus. Porém, eu sugeriria que, ao longo do caminho, ele permitisse que essa paixão se solidificasse em um amor maduro, e buscasse conhecer Jesus com mais profundidade. Não apenas o Jesus dos livros de Cristologia, mas o Jesus da vida, aquele que vive impregnado do pó do caminho, para que seu testemunho real e convincente despertasse em seus fiéis o desejo de também assumirem sua missão.
Não menos importante, iria recordá-lo de que o Padre precisa amar e que sua missão consiste em se gastar com o outro. Deus, em atitude de extrema confiança, lhe entrega uma parcela de seu rebanho para que seja conduzida, direcionada, mas, acima de tudo, para que seja amada, tal como o próprio Deus a ama. O Padre deve se dispor a acolher todas as situações de seu povo, das mais corriqueiras, e torná-las plenas do mistério de Deus!
“… eu iria adverti-lo que o Padre precisa ir ao encontro do outro, gastar-se por completo, percorrer os mesmos caminhos que Jesus percorreu e não ter medo de alcançar os becos mais escondidos e temidos da vida, se ali for preciso amar”
Então, eu iria adverti-lo que o Padre precisa ir ao encontro do outro, gastar-se por completo, percorrer os mesmos caminhos que Jesus percorreu e não ter medo de alcançar os becos mais escondidos e temidos da vida, se ali for preciso amar. Mas, eu iria alertá-lo de que amar dói, e ele precisaria ser corajoso o bastante para romper com sua zona de conforto, vencer a mediocridade das falsas seguranças para, de fato, amar com profundidade, pois é exatamente assim que Deus ama!
“… eu desejaria, de todo meu coração, que, em seu Ministério Sacerdotal, ele vivesse a plena comunhão com Jesus, a ponto de se tornar impossível identificar onde começa um e termina o outro”.
Por último, eu desejaria, de todo meu coração, que, em seu Ministério Sacerdotal, ele vivesse a plena comunhão com Jesus, a ponto de se tornar impossível identificar onde começa um e termina o outro. Desejaria ainda que, olhando para sua vida e para o Padre que, quiçá, ele se tornará, fosse possível afirmar com força, alegria e esperança: Jesus está vivo! E que seu abraço e acolhimento me certificassem dessa Presença Viva!