Ainda durante a realização do Sínodo dos Bispos, em 24 de outubro, o Papa Francisco surpreendeu a todos os fiéis ao lançar a quarta encíclica de seu Pontificado, Dilexit nos, Amou-nos, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus.
O Papa traz com este documento um convite ao mundo, que não deve se limitar somente à racionalidade e ao pragmatismo como elemento definidor dos rumos da humanidade, mas que se abra a experiência do afeto mútuo e das emoções constitutivas de cada ser humano. De acordo com o texto, quando se exclui a essência do humano, corre-se o risco de se cair no individualismo que exclui e destrói os vínculos entre as pessoas.
“Ao não se dar o devido valor ao coração, desvaloriza-se também o que significa falar a partir do coração, agir com o coração, amadurecer e curar o coração. Quando não se consideram as especificidades do coração, perdemos as respostas que a inteligência por si só não pode dar, perdemos o encontro com os outros, perdemos a poesia. E perdemos a história e as nossas histórias, porque a verdadeira aventura pessoal é aquela que se constrói a partir do coração. No fim da vida, só isto contará” (DN, 11).
A encíclica, ao valorizar a devoção ao Sagado Coração de Jesus, corrige alguns desvios de interpretação que segmentam ou limitam o papel redentor de Jesus. “Este Cristo com o seu coração trespassado e ardente é o mesmo Cristo que por amor nasceu em Belém, percorreu a Galileia curando, acariciando, derramando misericórdia, e amou-nos até ao fim, estendendo os braços na cruz. Por fim, é o mesmo que ressuscitou e vive gloriosamente no meio de nós” (DN 51).
O caminho feito pelo Papa Francisco através das suas encíclicas traz à tona uma compreensão integral para a vida cristã, a fé torna-se um condutor para a relação com o mundo e com o outro, mas que se inicia na experiência de proximidade com Deus. A primeira encíclica Lumen Fidei, sobre a fé, foi publicada em 2013, fazia parte de um projeto iniciado pelo seu predecessor, o Papa Bento XVI, sobre as virtudes teologais.
Após dois anos, o Papa faz com que a Igreja olhe com atenção para a Casa Comum que acolhe a humanidade, com a Laudato si’. Cinco anos depois, em meio à pandemia, Francisco clama pela fraternidade, lembrando a verdade fundamental, Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social. E, agora, o Papa traz para o centro do olhar cristão a essência da fé cristã, ter os olhos fixos em Jesus.