BATISMO O SACRAMENTO DA DIGNIDADE CRISTÃ
Pe. Sebastião Marcos Ferreira
Afirmar que o batismo é o sacramento da dignidade cristã implica compreendê-lo como o sacramento que fundamenta a nossa fé e nos incorpora à Igreja, corpo de Cristo. E como membros do corpo de Cristo pelo batismo este sacramento abre-nos o acesso aos demais sacramentos em vista de uma vida comprometida com a missão da Igreja e unida a Cristo “verdadeira videira” (Jo 15,1).
O Pontifício Conselho para a promoção da nova Evangelização, ao lançar o Diretório para a Catequese no ano de 2020, ajuda-nos a refletir sobre as afirmações acima. Assim reza o texto: “A ação pastoral alimenta a fé dos batizados e os ajuda no processo permanente de conversão da vida cristã. Na Igreja, ‘o batizado, impulsionado sempre pelo Espírito Santo, alimentado pelos sacramentos, pela oração e pelo exercício da caridade, e ajudando pelas múltiplas formas de educação permanente da fé, procura tornar seu o desejo de Cristo: ‘sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito’ (Mt 5,28)’ (DGC, n. 56d). Nisso, consiste o chamado à santidade para entrar na vida eterna” (DC, n. 35).
A vida sacramental não tem outra finalidade a não ser a busca pela santidade. Tornar-se cristão implica muito mais que passar pelo rito litúrgico da celebração sacramental. O rito litúrgico sempre é consequência de uma boa catequese, e sabemos que jamais pode separar catequese e liturgia, e muito menos afirmar que a liturgia não é catequética. Lembremos que no início da Igreja toda a catequese acontecia na liturgia e de maneira catecumenal. O catecúmeno, aquele que recebia os ensinamentos da fé, participava progressivamente dos ritos litúrgicos. Em cada celebração, o catecúmeno participava de uma parte do rito, passava por escrutínios até chegar o dia de receber o sacramento ou os sacramentos. Naquela época, havia situações que só recebia o sacramento do batismo ou o batismo, crisma e Eucaristia. O fato é que só recebia o sacramento aquele que tinha um lúcido entendimento da fé cristã.
Um texto bíblico que nos ajuda a entender bem a importância do entendimento da fé é At 8, 26-40. Este relato do encontro de Filipe com o eunuco etíope mostra-nos o quanto é importante ter consciência da fé que é professada. Em um primeiro momento de diálogo, Filipe pergunta ao eunuco se ele entendia o que estava lendo. “Entende o que lês”? O eunuco responde: como poderia entender se ninguém me explicar? (cf. v. 31). A continuação desse diálogo afirma que: “abrindo então a boca, e partindo do trecho da Escritura, Filipe anunciou-lhe a Boa Nova de Jesus” (v. 35).
A catequese que o eunuco recebe de Filipe é fundamental para ele pedir para ser batizado. Filipe prontamente atende o pedido e batiza-o (cf. vv. 36-38). Esta narrativa bíblica nos mostra o quanto é importante a consciência da fé da pessoa que vai receber o batismo. O eunuco que nada sabia o que estava lendo, ao ser iniciado na fé ele mesmo pede para ser batizado. Esse pedido não é um enfeite estilístico no texto bíblico, é na verdade o cerne da catequese que ele recebeu. Infelizmente essa consciência da Boa Nova de Jesus em uma dimensão sacramental está cada vez mais fragmentada em nossa Igreja. Em um mundo imediatista, não são raras as comunidades paroquiais que oferecem uma catequese rápida e sem profundidade ao catecúmeno adulto, ou aos pais e padrinhos das crianças a serem batizadas.
A Igreja ao perceber a importância de retomar a catequese catecumenal não tem medido esforços para que as comunidades paroquiais se empenhem no aprofundamento da fé daqueles que vão receber os sacramentos de iniciação cristã, é urgente sair do conhecimento raso de Jesus Cristo para um verdadeiro encontro com Ele que impulsiona cada batizado a assumir a sua missão.
A boa catequese tem um reflexo direto na participação ativa e consciente durante a celebração do batismo. As pessoas que não se comportam como verdadeiros participantes da ação litúrgica é porque falta-lhes a consciência do sacramento que está sendo celebrando. O rito do batismo deve ser entendido como um “coroamento” da catequese. Não é por acaso que as introduções do rito de batismo de crianças e de adultos falam da importância da participação das pessoas presentes na celebração. Sendo assim, essas introduções devem se alimentar da oração comum, através de uma celebração bem preparada, com símbolos e cânticos apropriados para que todos compreendam a manifestação da alegria pascal durante todo o rito celebrativo. Consequentemente, esses ritos demonstram que a fé das pessoas batizadas não é somente delas e das pessoas que participam da celebração, mas constitui um verdadeiro tesouro de toda a Igreja de Cristo, pois, “o batismo é o mais belo e o mais magnífico dom de Deus” (São Gregório de Nazianzo).